O SERVIÇO DE URGÊNCIA DE CIRURGIA VASCULAR EM TEMPOS DE PANDEMIA COVID-19
DOI:
https://doi.org/10.48750/acv.344Palavras-chave:
Cirurgia Vascular, Serviço de Urgência, COVID-19, PandemiaResumo
Introdução: O crescimento da pandemia COVID-19 em Portugal e as medidas de saúde pública implementadas fizeram- se acompanhar de um acentuado decréscimo no número de pacientes admitidos no Serviço de Urgência (SU).
Objetivos: Este estudo tem como objetivo avaliar o impacto da pandemia COVID-19 nas admissões do SU de Cirurgia Vascular, comparando as características clínicas e demográficas dos utentes que recorreram ao SU durante o período da pandemia e o período homólogo de 2019.
Métodos: Recolhemos retrospetivamente a informação dos pacientes admitidos no SU de Cirurgia Vascular do Centro Hospitalar Universitário do Porto entre os dias 4 de Março e 1 de Abril de 2020 — duas semanas antes e duas semanas depois da implementação do estado de emergência no nosso país devido à pandemia COVID-19 — e durante o período homólogo de 2019. Foram analisados os registos clínicos para obter as características e demografia, a severidade clínica orientada pelo Sistema de Triagem de Manchester (STM), o diagnóstico final no SU, a necessidade de internamento hospitalar ou de cirurgia emergente/urgente, a duração do internamento e a mortalidade dentro de 30 dias após a alta clínica.
Resultados: Durante o período da pandemia e o período homólogo de 2019, recorreram ao SU de Cirurgia Vascular um total de 119 e 210 utentes, respetivamente. Em ambos os anos predominaram utentes do sexo masculino, tendo-se verificado uma redução significativa na proporção de mulheres admitidas no ano de 2020 (P=0,015). Durante este período, foram triadas gravidades urgentes e muito urgentes em proporções significativamente inferiores (P=0,048). Contudo, a necessidade de internamento e de cirurgia emergente/urgente foi proporcionalmente e significativamente superior durante a pandemia (P<0,001 e P=0,002, respetivamente). Não se verificaram diferenças entre o tempo de internamento e a mortalidade precoce. Os diagnósticos mais prevalentes durante este período crítico foram a isquemia crónica ameaçadora de membro (CLTI), trombose venosa profunda e a isquemia aguda de membro; em 2019 predominaram os diagnósticos de CLTI, dor no membro de etiologia não-vascular e dor pós-operatória.
Conclusão: Identificámos uma redução de 43,3 % no número de visitas ao SU de Cirurgia Vascular no primeiro mês após o caso inaugural de COVID-19 no nosso país. Houve uma diminuição significativa dos casos urgentes e muito urgentes triados no SU, mas aqueles que recorreram a estes serviços apresentaram-se com doença mais grave e avançada, traduzido pelo aumento significativo na necessidade de cuidados em internamento e de cirurgia emergente/urgente. O medo de infeção e as limitações à mobilidade impostas pela quarentena podem dissuadir os doentes de recorrer ao SU e atrasar o tratamento médico adequado. Os efeitos a médio e longo prazo deste comportamento na morbimortalidade dos doentes deve ser determinada de forma a avaliar a qualidade da resposta dos serviços de saúde à pandemia.equado. Os efeitos a médio e longo prazo deste comportamento na morbimortalidade dos doentes deve ser determinada de forma a avaliar a qualidade da resposta dos serviços de saúde à pandemia.
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