ISQUEMIA DE COTO DE AMPUTAÇÃO TRANSFEMORAL: UM DESAFIO CIRÚRGICO NA PREVENÇÃO DA MORTALIDADE

Autores

  • Inês Antunes Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar do Porto
  • Carlos Pereira Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar do Porto
  • Gabriela Teixeira Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar do Porto
  • Carlos Veiga Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar do Porto
  • Daniel Mendes Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar do Porto
  • Carlos Veterano Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar do Porto
  • Henrique Rocha Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar do Porto
  • João Castro Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar do Porto
  • Rui Almeida Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar do Porto

DOI:

https://doi.org/10.48750/acv.230

Palavras-chave:

Isquemia de coto, desarticulação anca, revascularização de artéria femoral profunda, amputação transfemoral

Resumo

Introdução: A isquemia de coto de amputação transfemoral (TF) é uma condição clínica grave e que, se não tratada, geralmente cursa com progressão da isquemia o que pode levar à necessidade de desarticulação da anca e à morte. O objetivo deste trabalho é apresentar a nossa mais recente experiência em revascularização de cotos.

Materiais/Métodos: Revisão retrospetiva de todos os doentes com isquemia de cotos TF tratados na nossa instituição entre julho de 2018 e março de 2019.

Resultados: Nos últimos nove meses foram tratadas quatro isquemias de cotos TF. Dois deles apresentaram isquemia não aguda, com dor associada e lesões tróficas após pequeno trauma, vários meses após a cirurgia e cicatrização do coto. Em ambos os doentes, a tomografia computadorizada (TC) revelou oclusão da artéria femoral comum (AFC) e foi inconclusiva relativamente à permeabilidade da artéria femoral profunda (AFP). Face à gravidade da isquemia, foi considerada obrigatória uma tentativa de revascularização tendo-se procedido a uma exploração cirúrgica da AFP. Intra-operatoriamente a AFP revelou ter condições para
ser outflow de um bypass. Nos outros dois casos, a isquemia do coto foi aguda. Um caso desenvolveu isquemia após tratamento cirúrgico de um falso aneurisma ipsilateral da AFC (com necessidade de laqueação da AIE) tratado com um bypass da AIE para as AFP e AFS. O segundo caso refere-se a um doente admitido com oclusão da bifurcação aórtica e isquemia irreversível da perna direita tendo sido submetido a amputação TF primária. No pós-operatório evoluiu com isquemia do coto com agravamento progressivo.
Foi realizada revascularização com bypass axilo-femoral e re-amputação proximal. Em três casos ocorreu cicatrização do coto e bom outcome, o último doente morreu no pós-operatório.

Discussão/Conclusões: A isquemia de cotos de amputação TF conduz normalmente a agravamento progressivo, necrose, infeção e morte. Quando as AFC/AFP estão ocluídas, a re-amputação geralmente é insuficiente e a progressão da isquemia pode ditar a necessidade de uma desarticulação, procedimento muito agressivo e mutilador com alta taxa de morbi/mortalidade e que não impede a progressão para isquemia pélvica e morte. A revascularização, com base na AFP ou na hipogástrica, é a melhor alternativa terapêutica e deve ser tentada mesmo em doentes frágeis. Acreditamos que a nossa pequena série
reforça a ideia de que a revascularização do coto é possível e pode salvar tanto o coto como a vida do doente.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

1. TJ, Blunt. Gangrene of the immediate postoperative aboveknee amputation stump: Role of emergency revascularization in preventing death. J Vasc Surg 2. 1985(6):874-877.

2. Blunt TJ, Manship LR, Bynoe RP, Haynes JL. Lower extremity amputation for peripheral vascular disease: A low risk operation. Am Surg 50.1984(11):581-584.

3. Kwaan JHM, Connolly JE. Fatal sequelae of the ischemic amputation stump: A surgical challenge. Arch Surg 138. 1979: 49-52.

4. Affonso BB, Motta-Leal-Filho JM, Cavalcante RN, Falsarella PM, Galastri FL, Cardoso RS, et al. Intra-arterial fibrinolysis for the management of acute ischemia on a below-knee amputation stump. Case report . Einstein (São Paulo) 16. 2018: 1-4.

5. Laszlo G, Kullmann L. Hip disarticulation in peripheral vascular disease. Arch Orthop Trauma Surg, 1987: 126-128.

6. Unruh T, Fisher DF Jr, Unruh TA, Gottschalk F, Fry RE, Clagett GP, et al. Hip disarticulation. An 11 year experience. Arch Surg 125. 1990:791-793.

7. Endean ED, Schwarcz TH, Barker DE, Munfakh NA, Wilson-Neely R, Hyde GL. Hip disarticulation: factors affecting outcome. J Vasc Surg.1991:398-404.

8. Remes L, Isoaho R, Vahlberg T, Viitanen M, Rautava P. Predictors for institutionalization and prosthetic ambulation after major lower
extremity amputation during an eight-year follow-up. Aging Clin Exp Res.2009:129-135.

9. Fletcher DD, Andrews KL, Butters MA, Jacobsen SJ, Rowland CM, Hallett JW Jr. Rehabilitation of the geriatric vascular amputee patient: a population-based study. Arch Phys Med Rehabil. 2001:776-779.

10. Moura D, Garruço A. Desarticulação da anca — Análise de uma série e revisão da literatura. Rev Bras Ortop, 2016: 1-5.

11. Dénes Z, Till A. Rehabilitation of patients after hipdisarticulation. Arch Orthop Trauma Surg. 1997:498-499.

12. Fenelon GC, Von Foerster G, Engelbrecht E. Disarticulation ofthe hip as a result of failed arthroplasty. A series of 11 cases. J Bone Joint Surg Br 1980:441-446.

13. Jain R, Grimer RJ, Carter SR, Tillman RM, Abudu AA. Outcome after disarticulation of the hip for sarcomas. Eur J Surg Oncol. 2005:1025-1028.

14. Daigeler A, Lehnhardt M, Khadra A, Hauser J, Steinstraesser L,Langer S, et al. Proximal major limb amputations — a retrospective analysis of 45 oncological cases. World J Surg Oncol. 2009:1-10.

15. Ebrahimzadeh MH, Kachooei AR, Soroush MR, HasankhaniEG, Razi S, Birjandinejad A. Long-term clinical outcomes ofwar-related hip disarticulation
and transpelvic amputation. J Bone Joint Surg Am. 2013:1-6.

16. Zalavras CG, Rigopoulos N, Ahlmann E, Patzakis MJ. Hipdisarticulation for severe lower extremity infections. Clin Orthop Relat Res. 2009:1721-1726.

17. Nowroozi F, Salvanelli ML, Gerber LH. Energy expenditure inhip disarticulation and hemipelvectomy amputees. Arch PhysMed Rehabil. 1983:300-303.

18. Columbo JA, Ptak JA, Buckey JC, Walsh DB. Hyperbaric oxygen for patients with above-knee amputations, persistent ischemia, and nonreconstructable vascular disease. J Vasc Surg. 2016:1082-1084.

19. Drenjancevic I, Kibel A. Restoring vascular function with hyperbaric oxygen treatment: recovery mechanisms. J Vasc Res 2014:1-13.

20. Wattel F, Mathieu D, Coget JM, Billard V. Hyperbaric oxygen therapy in chronic vascular wound management. Angiology. 1990:59-65.

21. Stoekenbroek RM, Santema TB, Legemate DA, Ubbink DT, van den Brink A, Koelemay MJ. Hyperbaric oxygen for the treatment of diabetic foot ulcers: a systematic review. Eur J Vasc Endovasc Surg. 2014:647-655.

22. Heyboer M 3rd, GrantWD, ByrneJ,PonsP, Morgan M, Iqbal B,et al. Hyperbaric oxygen for the treatment of nonhealing arterial insufficiency ulcers. Wound Repair Regen. 2014:351-355.

23. Margolis DJ, Gupta J, Hoffstad O, Papdopoulos M, Glick HA, Thom SR, et al. Lack of effectiveness of hyperbaric oxygen therapy for the
treatment of diabetic foot ulcer and the prevention ofamputation: a cohort study. Diabetes Care. 2013:1961-1966.

Downloads

Publicado

2019-10-16

Como Citar

1.
Antunes I, Pereira C, Teixeira G, Veiga C, Mendes D, Veterano C, Rocha H, Castro J, Almeida R. ISQUEMIA DE COTO DE AMPUTAÇÃO TRANSFEMORAL: UM DESAFIO CIRÚRGICO NA PREVENÇÃO DA MORTALIDADE. Angiol Cir Vasc [Internet]. 16 de Outubro de 2019 [citado 24 de Novembro de 2024];15(2):59-64. Disponível em: https://acvjournal.com/index.php/acv/article/view/230

Edição

Secção

Artigo Original