TROMBOSE AGUDA DE STENT CAROTÍDEO – UMA ENTIDADE CLÍNICA RARA?

Autores

  • Andreia Coelho Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho; Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
  • Miguel Lobo Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho
  • Clara Nogueira Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho; Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
  • Jacinta Campos Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho; Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
  • Rita Augusto Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho; Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
  • Nuno Coelho Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho; Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
  • Ana Carolina Semiao Centro Hospitalar Vila de Nova de Gaia/Espinho
  • João Pedro Ribeiro Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho
  • Alexandra Canedo Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho; Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

DOI:

https://doi.org/10.48750/acv.173

Palavras-chave:

Estenose carotídea, Doença carotídea, Stents, Trombose carotídea

Resumo

Introdução: A trombose aguda de stentcarotídeo (ACST), que se define de acordo com o Academic Research Consortium como o evento que ocorre nas primeiras 24 horas após o procedimento, é descrita como uma complicação rara de stenting carotídeo mas tem consequências potencialmente catstróficas. AEuropean Society for Vascular Surgery atualizou as suas guidelinesconcluindo que trombólise e o abciximab poderão ser eficazes, mas não fornece recomendações terapêuticas específicas.

O objetivo desta revisão foi assim sumariar a evidência existente relativa a etiologia e abordagem de ACST.

Métodos: Uma revisão de literatura foi realizada usando a base de dados MEDLINE.

Resultados: Não são reportados dados relativos a taxa de incidência de ACST nos grandes ensaios clínicos randomizados publicados. Em cohorts publicadas, a taxa de incidência varia entre 0,5 a 0,8% na maioria dos estudos, mas pode atingir os 33% em contexto agudo pós-acidente vascular cerebral (AVC).

Considerando a etiologia, podemos subdividir em 2 categorias principais: causas sistémicas e complicações técnicas. No primeiro caso, a não adesão / resistência aos antiagregantes plaquetários foram as causas mais reportadas, enquanto que nas complicações técnicas inclui-se a dissecção da artéria carótida e a protrusão da placa. De salientar também que dual layer stentsforam associados a maior risco de ACST.

Existem três abordagens principais para o ACST: farmacológica, endovascular e cirúrgica. A abordagem farmacológica inclui a hipocoagulação, a trombólise e a trombólise facilitada, apesar de o papel das 2 últimas continuar por esclarecer.

O tratamento endovascular foi a abordagem mais comum para ACST intraprocedimento: trombectomia mecânica com ou sem trombólise facilitada concomitante. As opções cirúrgicas incluíram endarterectomia carotídea com explantação dostent, que foi também o bail-outapós mau resultado com tratamento endovascular, atingindo excelentes taxas de recanalização. Nos casos de ACST assintomáticos, o tratamento conservador com hipocoagulação foi unânime.

Discussão: Como conclusão, o ACST é provavelmente uma entidade clínica subestimada associada a múltiplos fatores de risco. A decisão relativa à melhor abordagem deve depender se o ACST ocorre intraprocedimento ou não, da constatação ou não de deterioração do estado neurológico e na experiência do centro. Estudos adicionais devem ser realizados para melhor definir a abordagem ideal.

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Publicado

2019-05-15

Como Citar

1.
Coelho A, Lobo M, Nogueira C, Campos J, Augusto R, Coelho N, Semiao AC, Ribeiro JP, Canedo A. TROMBOSE AGUDA DE STENT CAROTÍDEO – UMA ENTIDADE CLÍNICA RARA?. Angiol Cir Vasc [Internet]. 15 de Maio de 2019 [citado 24 de Novembro de 2024];14(4):333-8. Disponível em: https://acvjournal.com/index.php/acv/article/view/173

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