MONITORIZAÇÃO INTRAOPERATÓRIA DA ANTICOAGULAÇÃO EM CIRURGIA VASCULAR – UMA DOSE CEGA SERVE PARA TODOS?
DOI:
https://doi.org/10.48750/acv.159Palavras-chave:
heparina não fracionada, monitorização intraoperatória da anticoagulação, activated clotting time, cirurgia vascularResumo
Introdução: A heparina não fracionada (HNF) tem sido usada desde há décadas na Cirurgia Vascular como medida preventiva de fenómenos tromboembólicos. A sua farmacocinética complexa e não linear, associada a grande variabilidade individual, está amplamente documentada. Contudo, a monitorização da anticoagulação não é realizada por rotina em Cirurgia Vascular e uma dose standardé muitas vezes utilizada. O activated clotting time (ACT)tem mostrado ser uma forma simples, confiável e barata de monitorizar o efeito da HNF, sendo usado por rotina durante a cirurgia cardíaca. Contudo, a heparinização e a sua monitorização mantém-se um dilema em Cirurgia Vascular e são escassos os estudos que enfatizam a importância da monitorização.
Objetivos: analisar se uma dose fixa de HNF (5000 UI) usada durante cirurgia vascular resulta numa heparinização adequada e homogénea em todos os doentes.
Métodos: Este estudo observacional e prospetivo incluiu 30 doentes sujeitos a cirurgia arterial. A monitorização do efeito da HNF foi realizada através de medições consecutivas do ACT (antes da clampagem e 3, 30 e 60 minutos após o bólus de heparina). Dados pré-, intra-procedimento e pós-cirurgia foram também analisados. Dada a inexistência de guidelinesou recomendações concordantes quanto ao valor de ACT adequado para cirurgia arterial, foi tido em conta o menor valor referido nas diversas recomendações analisadas (ACT ³200 s).
Resultados: Aos 3 minutos constatou-se um ACT médio de 210.20 ±28.82 s (1.61 ±0.05 vezes o ACT basal). Após esta medição verificou-se um declínio para os 191.60 ±21.86 s e 173.4 ±21.37 s após 30 e 60 minutos, respetivamente. Três minutos após o bólusde heparina, apenas 53% dos doentes atingiram o ACT alvo, diminuindo esta percentagem para um terço aos 30 e apenas 7% aos 60 minutos. Mesmo quando ajustada ao peso, não se verificou uma correlação estatisticamente significativa entre a dose de heparina (UI/Kg) e o ACT medido após o bólus(r= 0.187; p= 0.322). Também não se constatou uma correlação entre os valores de ACT obtidos e os valores pré-cirurgia de hemoglobina, plaquetas, clearance de creatinina e INR. Verificou-se uma correlação positiva entre o valor de aPTT pré-intervenção e os valores de ACT medidos. Não houve diferença entre os valores de ACT obtidos e a toma previa de antiagregantes e anticoagulantes bem como também não houve diferença entre os valores de ACT alcançados e as perdas sanguíneas intraoperatórias.
Conclusão: Este estudo vem demonstrar que quer regime de heparinização baseado numa dose fixe, quer baseado no peso são insuficientes para proporcionar uma anticoagulação adequada a todos os doentes sugerindo que heparinização intraoperatória deve ser monitorizada e guiada de acordo com os valores de ACT obtidos. São necessários mais estudos para definer as reais implicações da monitorização, os seus benefícios e as ações requeridas quando confrontados com determinado valor de ACT.
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