Transposição de veia ovárica como um tratamento cirúrgico menos invasivo para a síndrome de nutcracker

Authors

DOI:

https://doi.org/10.48750/acv.333

Keywords:

Síndrome de Nutcracker, transposição de veia gonadal, auto-transplante renal, transposição de veia renal esquerda, Síndrome de Congestão Pélvica

Abstract

INTRODUÇÃO: O fenómeno de nutcracker refere-se à compressão da veia renal esquerda (VRE), habitualmente entre a aorta e a artéria mesentérica superior. Quando sintomático, designa-se síndrome de nutcracker. Os sintomas/sinais estão relacionados com o desenvolvimento de hipertensão venosa renal e o diagnostico depende da conjugação da clínica e alterações laboratoriais na presença de critérios imagiológicos. Habitualmente a indicação terapêutica depende da severidade dos sintomas. Existem várias opções terapêuticas: transposição/ pontagem da VRE para uma implantação mais distal na veia cava inferior, transposição da veia gonadal, auto- transplante renal, e tratamento endovascular.

CASO CLÍNICO: Doente de 40 anos, sexo feminino, observada em consulta de cirurgia vascular por varizes pélvicas e vulvares recidivadas. Por suspeita de síndrome de congestão pélvica, realizou estudo complementar com venoTAC que revelou fenómeno de nutcracker com dilatação importante da veia ovárica (VO) e varizes pélvicas. O exame sumário de urina revelou hematúria. Foram ponderadas várias opções de tratamento, tendo sido decidido fazer uma transposição da VO para a veia ilíaca comum (VIC). Através de uma pequena incisão paramediana esquerda (com cerca de 5cm) foi realizada uma abordagem retroperitoneal dos vasos. Procedeu-se à identificação e isolamento da VO (sinalizada com fio guia colocado pela veia femoral comum direita no início do procedimento). Localizada posteriormente à VO, isolou-se a VIC. Procedeu-se à secção transversal da VO e anastomose em termino-lateral da VO à VIC. O tratamento foi complementado com esclerose com espuma de varizes vulvares por via endovascular. A doente teve alta no primeiro dia de pós-operatório. Ao 6o mês de pós- operatório mantem-se sem recidiva das varizes e sem hematúria.

DISCUSSÃO: O Síndrome de nutcracker pode implicar uma morbilidade importante, com risco de trombose da VRE e perda da função renal. O melhor tratamento ainda não está definido e a seleção da melhor opção é dificultada pelo reduzido número de casos, ausência de estudos prospetivos randomizados, e pela ausência de follow-up a longo prazo de algumas das opções terapêuticas. A transposição da VRE é o procedimento mais habitual, seguido pelo auto-transplante renal. O nosso serviço tem vasta experiência na transplantação renal e o auto-transplante tem tido bons resultados; no entanto, não deixa de ser uma intervenção complexa, com riscos potenciais não desprezíveis, com uma convalescença prolongada e um impacto estético importante, sobretudo se aferido à idade jovem dos doentes. Corroborado pelo resultado do caso clínico apresentado, os autores consideram que a transposição da VO é uma alternativa terapêutica menos invasiva a ser considerada.

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Author Biography

Inês Antunes, Centro Hospitalar Unversitário do Porto, Portugal

ines_edd@hotmail.com

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Published

2022-09-11

How to Cite

1.
Antunes I, Pereira C, Veterano C, Veiga C, Mendes D, Rocha H, Castro J, Pinelo A, Almeida R. Transposição de veia ovárica como um tratamento cirúrgico menos invasivo para a síndrome de nutcracker. Angiol Cir Vasc [Internet]. 2022 Sep. 11 [cited 2024 Dec. 24];18(2):86-9. Available from: https://acvjournal.com/index.php/acv/article/view/333

Issue

Section

Clinical Case