QUANDO O TRABALHO SINÉRGICO ENTRE CIRURGIÕES GERAIS E VASCULARES FAZ A DIFERENÇA

Autores

  • Marisa D. Santos Serviço de Cirurgia Geral, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal; Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, Porto, Portugal
  • Daniel Mendes Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal
  • Ezequiel Silva Serviço de Cirurgia Geral, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal
  • Pedro Brandão Serviço de Cirurgia Geral, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal; Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, Porto, Portugal
  • Carlos Veiga Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal
  • Inês Antunes Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal
  • Gabriela Teixeira Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal
  • Joana Gaspar Serviço de Cirurgia Geral, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal
  • Isabel Mesquita Serviço de Cirurgia Geral, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal; Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, Porto, Portugal
  • António Canha Serviço de Cirurgia Geral, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal; Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, Porto, Portugal
  • Rui Almeida Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal; Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, Porto, Portugal
  • Rui Machado Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Universitário do Porto, Porto, Portugal; Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, Porto, Portugal

DOI:

https://doi.org/10.48750/acv.398

Palavras-chave:

Aterosclerose, Isquemia mesentérica aguda, Isquemia mesentérica crónica, Revascularização da artéria mesentérica

Resumo

Introdução: A isquemia mesentérica crónica como resultado de uma disfunção do fluxo sanguíneo nos órgãos viscerais é caracterizada por um curso clínico insidioso e, portanto, é frequentemente uma doença subestimada e subtratada. A história natural é progressiva, causada pelo desenvolvimento da aterosclerose numa população envelhecida e com múltiplas comorbilidades. Devido à extensa colateralidade, as lesões estenóticas difusas podem permanecer assintomáticas por muito tempo e manifestarem-se apenas quando ocorre um evento clínico ou cirúrgico agudo. Nestes casos, a suspeita clínica é fundamental para se chegar a um diagnóstico atempado de forma a preservar a qualidade de vida do doente e, principalmente, assegurar a sua sobrevida.

Caso-clínico 1: Mulher de 48 anos de idade com antecedentes de tabagismo recorre ao serviço de urgência por dor abdominal hipogástrica, náuseas e vómitos. Foi realizado estudo por angio-tomografia computorizada (ATC) que demonstrou oclusão da artéria mesentérica superior, e estenose significativa do tronco celíaco e espessamento de ansas do intestino delgado sugestivo de sofrimento isquémico. Foi realizado uma trombectomia da artéria mesentérica superior (AMS) e stenting retrógrado do seu ostio seguido posteriormente de enterectomia extensa na laparotomia das 24 horas. Após alta hospitalar, a doente apresentou novo quadro abdominal tendo sido documentada a oclusão do stent na AMS. Foi submetida a um bypass ílio-hepático com bom resultado.

Caso-clínico 2: Homem de 76 anos de idade previamente submetido a um bypass sequencial axilo-femoral e femoropopliteo direitos para tratamento de isquemia crónica com ameaça de membro. O doente recorreu ao serviço de urgência com dor abdominal, vómitos e obstipação. Foi realizado o diagnóstico de um quadro suboclusivo tendo realizado estudo por tomografia computorizada (TC) onde se observou aderência de ansas do íleon ao cego que se encontrava espessado; o tronco celíaco e AMS apresentavam estenoses suboclusivas. O doente foi submetido a um stenting primário do tronco celíaco com stent expansível em balão. Após a revascularização celíaca foi realizada uma colectomia direita com duas enterectomias segmentares.

Conclusão: A isquemia mesentérica é uma patologia grave muitas vezes subdiagnosticada por falta de atenção para a doença por parte da generalidade dos médicos bem como pelos sintomas inespecíficos. A intervenção vascular visa impedir a necrose intestinal que pode mesmo levar à morte do doente. O diagnóstico atempado é assim fundamental e a revascularização deve ser realizada antes ou no mesmo tempo da cirurgia intestinal. A estreita colaboração entre as equipas de cirurgia geral e vascular é de essencial importância para o sucesso destes casos.

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Publicado

2021-06-03

Como Citar

1.
Santos MD, Mendes D, Silva E, Brandão P, Veiga C, Antunes I, Teixeira G, Gaspar J, Mesquita I, Canha A, Almeida R, Machado R. QUANDO O TRABALHO SINÉRGICO ENTRE CIRURGIÕES GERAIS E VASCULARES FAZ A DIFERENÇA. Angiol Cir Vasc [Internet]. 3 de Junho de 2021 [citado 24 de Novembro de 2024];17(1):52-7. Disponível em: https://acvjournal.com/index.php/acv/article/view/398

Edição

Secção

Caso Clínico