DIFERENÇAS DE GÉNERO NA APRESENTAÇÃO DE ISQUÉMIA CRÓNICA DE MEMBRO INFERIOR E NOS RESULTADOS APÓS REVASCULARIZAÇÃO
DOI:
https://doi.org/10.48750/acv.355Palavras-chave:
Género, Doença arterial periférica (DAP), Isquemia crónica com compromisso do membro (ICCM), Revascularização de membro inferiorResumo
Introdução: Os resultados após revascularização de membro inferior, quando estratificados por sexo, são piores no sexo feminino, particularmente após procedimentos convencionais. As mulheres parecem ter maior probabilidade de complicações do procedimento, amputação e morte quando comparadas com os homens. Este estudo pretende identificar as diferenças nas características demográficas, apresentação clínica e principais outcomes após revascularização de membro inferior, entre doentes do sexo masculino e feminino.
Métodos: Este estudo unicêntrico retrospetivo observacional incluiu todos os membros inferiores sem revascularização prévia em doentes com diagnóstico de DAP, que foram submetidos a um procedimento terapêutico vascular num hospital terciário, entre Janeiro de 2017 e Dezembro de 2018. O grupo do sexo feminino (Grupo F) foi comparado com o grupo do sexo masculino (Grupo M). O endpoint primário foi a amputação major e os endpoints secundários foram a restenose/oclusão diagnosticada, reintervenção vascular e sobrevida. A análise de subgrupos foi realizada após estratificação em procedimentos convencionais, endovasculares ou híbridos.
Resultados: O Grupo M incluiu 324 membros inferiores de doentes do sexo masculino, com uma idade média de 67,5 anos. O Grupo F incluiu 96 membros inferiores de doentes do sexo feminino, com uma idade média de 71,7 anos (p<0,001). Não foi encontrada diferença estatisticamente significativa nos fatores de risco cardiovascular entre os grupos, com exceção de uma maior prevalência de tabagismo no Grupo M e de hipertensão no Grupo F (p<0.001). 83% dos procedimentos no Grupo F e 79% dos procedimentos no grupo M foram realizados devido a isquemia crónica com compromisso do membro (ICCM; p=0,321). Não foi encontrada diferença estatisticamente significativa no que diz respeito ao grau de ferida ou infeção (WIfI) e ao estadiamento anatómico de doença femoropopliteia ou abaixo do tornozelo (GLASS). O Grupo M apresentou maior prevalência de doença aorto-ilíaca (p=0,014) e da artéria femoral comum (p=0.001) e o Grupo F apresentou doença abaixo-do-joelho mais grave (p=0,012). No Grupo F observou-se uma maior proporção de procedimentos endovasculares (p<0.001). A taxa de amputação do Grupo M e no Grupo F foi de 8±2% e 7±3% a 1 mês, 14±2% e 16±4% a 1 ano, e 15±2% e 19±4% a 2 anos, respetivamente (p=0,564). Não houve diferenças significativas nas taxas de restenose/oclusão entre os grupos (p=0,395). As taxas de reintervenção no Grupo M e no Grupo F foram 13±2% e 13±3% a 1 mês, 21±2% e 20±4% a 1 ano, e 25±3% e 24±5% a 2 anos, respetivamente (p=0,74). A sobrevida no Grupo M e no Grupo F foi de 97±1% e 93±3% a 1 mês, 84±2% e 84±4% a 1 ano, e 77±3% e 72±5% a 2 anos, respetivamente (p=0,443). Estratificando de acordo com o tipo de procedimento vascular (convencional, endovascular ou híbrido), não se verificou diferença estatisticamente significativa entre os grupos nos endpoints acima mencionados.
Conclusão: De acordo com este estudo, as doentes do sexo feminino apresentam idade mais avançada e doença abaixo-do-joelho mais grave. São mais frequentemente submetidas a procedimentos endovasculares. Contudo, não parecem existir diferenças importantes nos outcomes de membro para as mulheres submetidas a procedimentos de revascularização de membro inferior.
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Referências
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