ENDOPRÓTESE NELLIX® NO TRATAMENTO DE AAA NUMA INSTITUIÇÃO TERCIÁRIA — RELATO DO INSUCESSO
DOI:
https://doi.org/10.48750/acv.317Palavras-chave:
Aneurisma da Aorta Abdominal, Endovascular Aneurysm Sealing (EVAS), ComplicaçõesResumo
Introdução: A endoprótese Nellix® (Endologix Inc., Irvine CA) é composta por dois stents expansíveis por balão envolvidos por endobags preenchidos por um polímero, obliterando assim o saco aneurismático – Endovascular Aneurysm Sealing (EVAS). Inicialmente, pelas suas propriedades, foi introduzida com instruções para uso (IFU) alargadas, possibilitando a utilização em Aneurismas da Aorta Abdominal (AAA) de anatomia mais complexa. Porém, durante a experiência com esta endoprótese, foi descrito um elevado número de complicações, levando à restrição progressiva das IFU. Atualmente, o seu uso livre foi descontinuado e apenas está disponível em centros selecionados e para efeitos investigacionais. O objetivo deste estudo é reportar os resultados institucionais da utilização da endoprótese Nellix® no contexto de AAA.
Material e Métodos: Realizou-se um estudo retrospectivo referente a doentes tratados a AAA utilizando a endoprótese Nellix® numa instituição terciária universitária. Foram incluídos todos os casos eletivos e urgentes, identificados através da consulta de registos clínicos da instituição. Foram excluídos casos de aneurisma toraco-abdominal. Os dados referentes às características de base, procedimento realizado, curso do internamento e seguimento pós hospitalar foram obtidos por consulta dos processos clínicos. Foram analisados como endpoints o sucesso técnico e clínico aos 30 dias, assim como complicações e intervenções secundárias a médio e longo prazo.
Resultados: Entre 2015 e 2017, a esta endoprótese foi utilizada em 12 doentes, 9 homens e 3 mulheres, com média de 71(±8) anos. As comorbilidades mais frequentemente associadas foram HTA (n=12), tabagismo (n=7), cardiopatia isquémica (n=7), DAOP (n=6) e DRC (n=6). Em todos os doentes a indicação foi aneurisma primário degenerativo, com uma excepção, cuja indicação foi a presença de endoleak (EL) tipo 1a pós-EVAR prévio. Dez doentes foram submetidos a cirurgia eletiva e dois a cirurgia urgente, ambos por aneurisma sintomático. Três eram aneurismas aortoilíacos e os restantes aórticos (n=9), sendo que 3 tinham envolvimento de pelo menos uma artéria renal. Nove doentes foram submetidos a EVAS sem procedimentos complementares; os restantes a EVAS com chimney (ChEVAS) para as renais e/ou artéria mesentérica superior (n=3). O diâmetro médio pré-operatório era de 57mm (±6.5mm). Num doente tratou-se concomitantemente um aneurisma popliteu através do implante de stent coberto. Aos 30 dias verificou-se o óbito em 2 doentes submetidos a ChEVAS. As complicações mais frequentes foram Insuficiência Respiratória (n=3) e LRA com necessidade de diálise (n=3), sendo que em dois houve oclusão intencional das artérias renais (doentes com DRC terminal em pré-diálise). Neste período, houve uma reintervenção, por isquémia aguda de membro por trombose aguda de stent popliteu, tratada com sucesso com trombólise dirigida por catéter.Após os 30 dias, verificou-se o óbito em 4 doentes (sobrevivência aos 2 anos de 60%, SE=.154). As complicações verificadas foram EL tipo 1a (n=3), EL 1b (n=1) e trombose de stent aórtico (n=1). Dois doentes foram submetidos a intervenção secundária: um submetido a pontagem femoro-femoral cruzada por trombose de stent e outro a explantação protésica e reconstrução in-situ através de pontagem aorto-bifemoral. No último, verificou-se o óbito no pós-operatório precoce. Dois doentes aguardam intervenção secundária por EL tipo 1a e crescimento do saco. O diâmetro médio do saco aneurismático no último exame ou pré-intervenção secundária era 59mm (±10.6mm). O tempo médio de follow-up é de 2.3(±1.6) anos.
Conclusões: Na nossa instituição, a utilização da endoprótese Nellix® está associada a elevada taxa de complicações perioperatórias e a médio prazo, com elevada taxa de complicações relacionadas com o aneurisma, sendo o EL tipo 1a a mais frequente. Apesar de atualmente o uso livre da endoprótese estar descontinuado, os doentes que foram submetidos previamente a EVAS carecem de um plano de vigilância específico e mais intensivo, para deteção e correção atempada de complicações.
Downloads
Referências
2. Böckler D, Holden A, Thompson M, Hayes P, Krievins D, De Vries JPPM, et al. Multicenter Nellix EndoVascular Aneurysm Sealing system experience in aneurysm sac sealing. J Vasc Surg. 2015;
3. Patel R, Sweeting MJ, Powell JT, Greenhalgh RM. Endovascular versus open repair of abdominal aortic aneurysm in 15-years' follow-up of the UK endovascular aneurysm repair trial 1 (EVAR trial 1): a randomised controlled trial. Lancet. 2016;
4. Carpenter JP, Cuff R, Buckley C, Healey C, Hussain S, Reijnen MMPJ, et al. One-year pivotal trial outcomes of the Nellix system for endovascular aneurysm sealing. In: Journal of Vascular Surgery. 2017.
5. Thompson M, Youssef M, Jacob R, Zerwes S, Reijnen M, Szopinski P, et al. Early Experience With Endovascular Aneurysm Sealing in Combination With Parallel Grafts for the Treatment of Complex Abdominal Aneurysms: The ASCEND Registry. J Endovasc Ther. 2017;
6. Reijnen MMPJ, De Bruin JL, Mathijssen EGE, Zimmermann E, Holden A, Hayes P, et al. Global experience with the Nellix endosystem for ruptured and symptomatic abdominal aortic aneurysms. J Endovasc Ther. 2016;