LESÃO TRAUMÁTICA DA ARTÉRIA POPLÍTEA: UMA LESÃO RARA MAS QUE NÃO PODE SER ESQUECIDA
DOI:
https://doi.org/10.48750/acv.420Palavras-chave:
Trauma joelho, Luxação joelho, Fratura joelho, Lesão traumática da artéria poplíteaResumo
Introdução: A lesão traumática da artéria poplítea, apesar de ser uma entidade clínica rara é a causa mais comum de amputação associada a trauma dos membros inferiores.
O objetivo deste estudo foi descrever a incidência de lesão artéria poplítea após trauma do joelho e descrever a abordagem terapêutica e seus resultados.
Métodos e materiais: Os códigos CID-10 / CID-9 (S85.0 / 904.41; S83.1 / 836.5; S83.4; S83.5; S72,4 / 821.2; S82,1 / 823.0) foram usados para identificar os pacientes admitidos no nosso centro terciário no período de 01/01/2010 a 31/5/2021 com o diagnóstico de lesão artéria poplítea e/ou trauma do joelho.
Foi posteriormente realizada uma análise estatística destes pacientes através do programa SPSS versão 27.
Resultados: No nosso centro no período de 1/1/2010 a 31/5/2021 foram admitidos 535 doentes com trauma do joelho (28 com luxação do joelho e 507 com fratura próxima ao joelho) e 9 doentes com lesão da artéria poplítea (7 homens, com idade mediana de 39,0 anos).
Os mecanismos de lesão da artéria poplítea foram acidentes de mota (4) ou de bicicleta (1) ; um acidente de trabalho com maquinaria pesada, uma queda, um atropelamento e uma lesão iatrogénica.
A incidência de lesão da artéria poplítea após trauma do joelho foi de 1.5% - após luxação do joelho foi de 17.9% e após fratura do joelho foi de 0.8%.
Relativamente a lesões associadas, quatro doentes tinham lesões extensas de tecidos moles, dois tinham lesão venosa e dois tinham lesão nervosa.
O tempo mediano de isquemia foi de 6.0 horas e o tempo médio de intervenção vascular de 2.4 horas.
Em relação ao tratamento vascular realizado, oito doentes foram submetidos a cirurgia de revascularização por bypass e um foi tratado conservadoramente.
Em três doentes foram realizadas fasciotomias terapêuticas.
Não foi realizada nenhuma amputação primária e foi realizada uma amputação secundária.
O tempo médio de internamento hospitalar foi de 24.9 dias e a mortalidade foi de 0%.
Durante o follow-up, apenas três pacientes voltaram ao seu nível de atividade normal e seis ficaram com limitações na realização das atividades de vida diária.
Discussão/Conclusão: O risco de lesão da artéria poplítea após luxação do joelho é maior do que após fratura do joelho (17,9% vs 0,8% no nosso estudo e 3,4-8,2% vs 0,2% no registo sueco) e, portanto, os ortopedistas devem estar conscientes deste risco aumentado de lesão vascular.
A taxa de amputação na nossa série foi menor do que a do registo Sueco e a do Banco de Dados Nacional de Trauma dos Estados Unidos (11% vs 28% vs 14,5%, respetivamente). No entanto, 11% é ainda assim uma taxa elevada, uma vez que afeta principalmente uma população jovem e ativa e apenas 33.3% dos pacientes regressaram a uma vida normal. Assim sendo, uma abordagem multidisciplinar é essencial para diminuir o tempo de isquemia e promover um tratamento holístico do doente.
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