EVIDÊNCIA ATUAL DA PROTAMINA EM CIRURGIA CAROTÍDEA

Autores

  • Eduardo Silva Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular; Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; Coimbra; Portugal
  • Mafalda Correia Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular; Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; Coimbra; Portugal
  • Celso Nunes Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular; Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; Coimbra; Portugal
  • Vânia Constâncio Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular; Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; Coimbra; Portugal
  • Joana Silva Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular; Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; Coimbra; Portugal
  • Pedro Lima Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular; Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; Coimbra; Portugal
  • Joana Moreira Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular; Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; Coimbra; Portugal
  • Manuel Fonseca Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular; Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; Coimbra; Portugal

DOI:

https://doi.org/10.48750/acv.414

Palavras-chave:

Protamina, Cirurgia Carotídea, Endarterectomia carotídea, Stenting carotídeo

Resumo

Introdução e Objetivos: A administração de heparina constitui um passo standardizado na cirurgia carotídea dada a redução de complicações tromboembólicas no período perioperatório. Esta prática não está livre de riscos visto que as complicações hemorrágicas estão associadas a um aumento de reintervenções. Historicamente, a protamina, enquanto agente capaz de reverter os efeitos anticoagulantes da heparina, tem gerado controvérsia pela alegada associação a trombose carotídea e AVC.

Este artigo tem como objetivo rever a literatura publicada sobre a reversão com protamina na cirurgia carotídea.

Métodos: Com recurso à plataforma Pubmed foram selecionados todos os artigos publicados desde janeiro de 2010 até à presente data tendo sido selecionados 10 artigos, onde se incluem duas meta-análises, uma revisão sistemática e seis estudos observacionais multicêntricos de larga escala. Procurou-se avaliar o risco de enfarte, AVC ou morte, bem como as complicações hemorrágicas com a administração de protamina.

Resultados: De entre os artigos selecionados, seis avaliaram o efeito da protamina durante endarterectomia carotídea, três no stenting carotídeo transfemoral e um no stenting transcarotídeo (TCAR).

Nos doentes submetidos a endarterectomia, todos os estudos demonstraram uma diminuição estatisticamente significativa na redução de complicações hemorrágicas nos doentes em que se administrou protamina, nomeadamente com redução nas reintervenções e na necessidade de transfusões, não tendo sido relatado em nenhum destes estudos uma diferença estatisticamente significativa na mortalidade, ocorrência de AVC ou enfarte. O único estudo que analisou a utilização da protamina no TCAR obteve resultados semelhantes aos da endarterectomia.

O uso de protamina no stenting carotídeo transfemoral, não demonstrou diferenças na incidência de AVC, enfarte, morte ou redução de complicações hemorrágicas em estudos observacionais, no entanto, relacionou-se a um aumento de AVC aos 30 dias numa revisão sistemática.

Analisando os doentes submetidos a reintervenção cirúrgica concluiu-se que independentemente do uso de protamina, houve um aumento estatisticamente significativo no enfarte, AVC e morte.

Conclusão: A reversão com protamina na cirurgia carotídea demonstrou-se eficaz e segura, à luz da evidência científica publicada na última década, não se associando a um aumento do número de eventos trombóticos e contribuindo para a diminuição das complicações hemorrágicas, sendo estas afirmações suportadas por meta-análises e estudos observacionais com grandes populações amostrais, contrariando a controvérsia relacionada com o uso de protamina resultante de estudos históricos com base em análises de amostras de pequenas dimensões ou na experiência da própria instituição. Reforça-se deste modo a importância da administração rotineira de protamina na abordagem carotídea.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Newhall KA, Saunders EC, Larson RJ, Stone DH, Goodney PP. Use of Protamine for Anticoagulation During Carotid Endarterectomy: A Meta-analysis. JAMA Surg. 2016;151(3):247–255.

Liang P, Motaganahalli R, Swerdlow NJ, Dansey K, Varkevisser RRB, Li C, et al. Protamine use in transfemoral carotid artery stenting is not associated with an increased risk of thromboembolic events. J Vasc Surg. 2021 Jan;73(1):142-150.e4.

McDonald JS, Kallmes DF, Lanzino G, Cloft HJ. Protamine does not increase risk of stroke in patients with elective carotid stenting. Stroke. 2013 Jul;44(7):2028-30.

Applefield D, Krishnan S. Protamine. [Updated 2020 May 24]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan-.

Baracchini C, Ballotta E. The Benefit of Heparin Reversal With Protamine During Carotid Endarterectomy. JAMA Surg. 2016;151(3):255–256.

Boer C, Meesters MI, Veerhoek D, Vonk ABA. Anticoagulant and side-effects of protamine in cardiac surgery: a narrative review. Br J Anaesth. 2018 May;120(5):914-927.

Stone DH, Giles KA, Kubilis P, Suckow BD, Goodney PP, Huber TS, et al. Editor's Choice — Protamine Reduces Serious Bleeding Complications Associated with Carotid Endarterectomy in Asymptomatic Patients without Increasing the Risk of Stroke, Myocardial Infarction, or Death in a Large National Analysis. Eur J Vasc Endovasc Surg. 2020 Dec;60(6):800-807.

Stone DH, Nolan BW, Schanzer A, Goodney PP, Cambria RA, Likosky DS, et al. Vascular Study Group of Northern New England. Protamine reduces bleeding complications associated with carotid endarterectomy without increasing the risk of stroke. J Vasc Surg. 2010 Mar;51(3):559-64, 564.e1.

Patel RB, Beaulieu P, Homa K, Goodney PP, Stanley AC, Cronenwett JL, et al. Vascular Study Group of New England. Shared quality data are associated with increased protamine use and reduced bleeding complications after carotid endarterectomy in the Vascular Study Group of New England. J Vasc Surg. 2013 Dec;58(6):1518-1524.e1.

Mazzalai F, Piatto G, Toniato A, Lorenzetti R, Baracchini C, Ballotta E. Using protamine can significantly reduce the incidence of bleeding complications after carotid endarterectomy without increasing the risk of ischemic cerebral events. World J Surg. 2014 May;38(5):1227-32.

Kakisis JD, Antonopoulos CN, Moulakakis KG, Schneider F, Geroulakos G, Ricco JB. Protamine Reduces Bleeding Complications without Increasing the Risk of Stroke after Carotid Endarterectomy: A Meta-analysis. Eur J Vasc Endovasc Surg. 2016 Sep;52(3):296-307.

Naylor AR, Ricco JB, de Borst GJ, Debus S, de Haro J, Halliday A, et al. Editor's Choice — Management of Atherosclerotic Carotid and Vertebral Artery Disease: 2017 Clinical Practice Guidelines of the European Society for Vascular Surgery (ESVS). Eur J Vasc Endovasc Surg. 2018 Jan;55(1):3-81.

McDonald JS, Kallmes DF, Lanzino G, Cloft HJ. Protamine does not increase risk of stroke in patients with elective carotid stenting. Stroke. 2013 Jul;44(7):2028-30.

Khan M, Qureshi AI. Factors Associated with Increased Rates of Post-procedural Stroke or Death following Carotid Artery Stent Placement: A Systematic Review. J Vasc Interv Neurol. 2014 May;7(1):11-20.

Aronow HD, Gray WA, Ramee SR, Mishkel GJ, Schreiber TJ, Wang H. Predictors of neurological events associated with carotid artery stenting in high-surgical-risk patients: insights from the Cordis Carotid Stent Collaborative. Circ Cardiovasc Interv. 2010 Dec;3(6):577-84.

Liang P, Motaganahalli RL, Malas MB, Wang GJ, Eldrup-Jorgensen J, Cronenwett JL, Nolan BW, Kashyap VS, Schermerhorn ML. Protamine use in transcarotid artery revascularization is associated with lower risk of bleeding complications without higher risk of thromboembolic events. J Vasc Surg. 2020 Dec;72(6):2079-2087.

Schermerhorn ML, Liang P, Eldrup-Jorgensen J, et al. Association of Transcarotid Artery Revascularization vs Transfemoral Carotid Artery Stenting With Stroke or Death Among Patients With Carotid Artery Stenosis. JAMA. 2019;322(23):2313–2322.

Downloads

Publicado

2022-03-02

Como Citar

1.
Silva E, Correia M, Nunes C, Constâncio V, Silva J, Lima P, Moreira J, Fonseca M. EVIDÊNCIA ATUAL DA PROTAMINA EM CIRURGIA CAROTÍDEA. Angiol Cir Vasc [Internet]. 2 de Março de 2022 [citado 23 de Novembro de 2024];17(4):306-12. Disponível em: https://acvjournal.com/index.php/acv/article/view/414

Edição

Secção

Artigo de Revisão