ENDARTERECTOMIA CAROTÍDEA: APLICAÇÃO DAS GUIDELINES NA PRÁTICA CLÍNICA
DOI:
https://doi.org/10.48750/acv.273Palavras-chave:
Guidelines doença carotídea, Estenose carotídea sintomática e assintomática, Endarterectomia carotídea, ComplicaçõesResumo
Introdução: Atualmente estão disponíveis diversas guidelines sobre o tratamento da doença carotídea de modo a ajudar os médicos na sua decisão terapêutica e garantir o melhor tratamento a cada paciente. Estas afirmam que a endarterectomia carotídea tem algum benefício nos doentes sintomáticos com estenose carotídea de 50 a 69% e é altamente benéfica em doentes sintomáticos com estenose carotídea de 70 a 99%, sendo que a taxa de mortalidade ou AVC deverá ser inferior a 6%. Para um benefício máximo, a endarterectomia deverá ser realizada nas primeiras duas semanas após o evento cerebrovascular. Em doentes assintomáticos, a endarterectomia carotídea deverá ser oferecida a pacientes com esperança de vida superior a 5 anos, estenose carotídea > 70% e as complicações perioperatórias deverão ser inferiores a 3%.
O objectivo deste estudo é analisar a nossa prática clínica, rever os doentes tratados, tempos de referência e comparar os resultados da nossa instituição com os publicados nas guidelines internacionais.
Material e Métodos: Estudo retrospectivo dos pacientes submetidos a endarterectomia carotídea no Centro Hospitalar Universitário do Porto entre 2010 e 2015.
Resultados: Durante o período de 2010 a 2015, 404 pacientes foram submetidos a endarterectomia carotídea, 76% homens e uma média de idades de 69 anos para ambos os sexos. O grau de estenose carotídea foi normalmente determinado por ecodoppler, havendo necessidade de estudo complementar com angioTC em 20% e angiografia em 2,2% dos casos. A maioria dos doentes (54,2%) eram sintomáticos (AVC ou AIT < 6 meses). Os pacientes cujo diagnóstico de evento cerebrovascular foi realizado na nossa instituição foram operados após 10 dias (mediana). Todas as endarterectomias foram realizadas sob anestesia geral e o encerramento arterial foi feito, sistematicamente, com recurso a patch de Dacron. Foi usado shunt em 4,6% dos casos (n=18). O período médio de cirurgia foi de 101 minutos e o tempo de clampagem de 40 minutos. A hipocoagulação foi revertida intraoperatoriamente com protamina em 48,3% dos casos. A morbimortalidade observada foi de 9 AVC major (com sequelas), 8 eventos cerebrovasculares mínimos/ transitórios e 4 mortes. Nos doentes sintomáticos (n=219), a taxa de AVC major foi de 3,6%. Nos doentes assintomáticos (n=185), um AVC major e um minor foram registados (1,1%). Outras complicações: hematoma 5,9% (n=24); infeção 0,2% (n=1); disfunção de nervo periférico 8,7% (n=35); falso aneurisma 0,5% (n=2).
Conclusão: Os nossos resultados enquadram-se dentro dos valores de referência. Este estudo permite-nos conhecer a nossa realidade e a nossa capacidade de resposta, assim como compreender formas de melhorar o nosso modo de actuação.
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