INFEÇÃO DE PRÓTESES VASCULARES — AINDA UMA ENTIDADE A TEMER?

Autores

  • Pedro Lima Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal
  • Cândida G. Silva Escola Superior de Saúde, Politécnico de Leiria, Leiria, Portugal; Centro de Inovação em Tecnologias e Cuidados de Saúde, Politécnico de Leiria, Leiria, Portugal; Centro de Química de Coimbra, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal 
  • Luís Antunes Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal
  • Mário Moreira Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal
  • Mafalda Correia Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal
  • Joana Silva Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal
  • Anabela Gonçalves Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal
  • Óscar Gonçalves Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal

DOI:

https://doi.org/10.48750/acv.257

Palavras-chave:

Infeção protésica, Infeção vascular

Resumo

Introdução: A evolução na técnica de assepsia e antibioterapia profilática tem mantido a incidência de infeção de próteses vasculares (IPV) baixa. No entanto, uma proporção de doentes ainda se encontra suscetível a uma patologia que coloca em risco a função do enxerto e do órgão-alvo perfundido, enquanto ameaça com complicações sépticas a vida de cada um dos afetados. A abordagem das IPV depende da manifestação da infeção e do microrganismo em questão, da topografia da prótese infetada e do estado geral do doente. Desde explantação total da prótese até antibioterapia prolongada são várias as estratégias terapêuticas, cabendo ao cirurgião avaliar qual contribuirá para uma evolução natural mais favorável para o doente. Com este trabalho, os autores propõem-se a caracterizar clinicamente a população de doentes com IPV, no seu centro hospitalar.

Métodos: Usando o sistema informático hospitalar, foram colhidas as cartas de alta relativas ao Serviço de Cirurgia Vascular, entre os anos 2000–2018, com as palavras-chave “infeção” e “prótese”. Foram excluídos todas as infeções não relacionadas, infeções de próteses para acessos de diálise e os doentes cujos processos não tinham informação relativamente ao procedimento de implantação do enxerto.

Resultados: Foram incluídos 47 processos de doentes entre os 46 e 84 anos (média 69 anos), 89% do sexo masculino. Apenas 15% eram diabéticos e apenas 2 doentes se encontravam sob imunossupressão. Cerca de 51% das próteses infetadas foram de enxertos aorto-bifemorais e os restantes relativos a procedimentos periféricos. Na casuística verificada, 13 das próteses infetadas foram colocadas em regime de urgência. As infeções tardias (>4 meses) assumem a maioria dos casos (70%). Os agentes gram-positivos foram os agentes mais frequentemente observados (50% dos quais o MRSA). A apresentação mais comum foi o aparecimento de falsos aneurismas anastomóticos e apenas 25% das próteses infetadas se encontravam ocluídas. A antibioterapia mais usada foram combinações incluindo Vancomicina, com duração entre as 1 e as 12 semanas. Em 85% dos doentes foi removido o enxerto. Destes, 57% foram revascularizados. O follow up foi heterogéneo com uma média de 26,5 meses. Como outcome, de referir 20% dos doentes submetidos a amputação major, 18% com mortalidade atribuída a IPV e 29% com mortalidade global não relacionada.

Discussão: As IPV continuam a ser uma patologia desafiante, não só pelas consequências sépticas ou da isquemia de órgão-alvo, mas também pelo enquadramento dos doentes que são afetados. A crescente prevalência de agentes multirresistentes numa população cada vez mais envelhecida gera a necessidade de abordar esta patologia de uma forma multidisciplinar. A incidência IPV envolvendo a Aorta, e a exigência técnica de uma cirurgia major com impacto hemodinâmico, particularmente em infeções por agentes de reduzida virulência, pode obrigar a adequar as estratégias terapêuticas em doentes que não sejam aptos para cirurgia. No entanto, um tratamento conservador geralmente está associado a recorrência da infeção ou a possíveis complicações de uma infeção latente.

Conclusão: É necessária uma abordagem multidisciplinar, com diagnóstico sensível e precoce, e um equilíbrio entre o local e agressividade da infeção ao contexto clínico de cada doente de forma a otimizar os resultados.

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Publicado

2020-08-05

Como Citar

1.
Lima P, Silva CG, Antunes L, Moreira M, Correia M, Silva J, Gonçalves A, Gonçalves Óscar. INFEÇÃO DE PRÓTESES VASCULARES — AINDA UMA ENTIDADE A TEMER?. Angiol Cir Vasc [Internet]. 5 de Agosto de 2020 [citado 21 de Novembro de 2024];16(2):71-8. Disponível em: https://acvjournal.com/index.php/acv/article/view/257

Edição

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Artigo Original