ESTENOSE CAROTÍDEA MODERADA (50–69%) SINTOMÁTICA — ANÁLISE RETROSPETIVA DE UM CENTRO

Autores

  • Pedro Pinto Sousa Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular; Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/espinho, Portugal
  • Gabriela Lopes Serviço de Neurologia; Centro Hospitalar Universitário do Porto, Portugal
  • Gabriela Teixeira Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular; Centro Hospitalar Universitário do Porto, Portugal
  • Rui Almeida Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular; Centro Hospitalar Universitário do Porto, Portugal
  • Pedro Sá Pinto Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular; Centro Hospitalar Universitário do Porto, Portugal

DOI:

https://doi.org/10.48750/acv.155

Palavras-chave:

Estenose carotídea, Stenting carotídeo, Endarteriectomia carotídea, Melhor tratamento médico, Estenose carotídea sintomática, Estenose carotídea moderada

Resumo

Introdução: A Sociedade Europeia de Cirurgia Vascular (ESVS), de acordo com os estudos de maior validade publicados na literatura,“North American Symptomatic Carotid Endarterectomy Trial” (NASCET), “European Carotid Surgery Trial” (ECST) e “Symptomatic Veterans Affairs Co-operative Study Trial” (SVACS), determina a orientação de doentes com sintomas do território carotídeo nos seis meses precedentes e estenose carotídea moderada (50–69%) (ECM) para endarteriectomia carotídea associada ao melhor tratamento médico(1).

Objetivo: Analisar os doentes admitidos com ECM, interpretar os motivos de decisão terapêutica e avaliar a adequabilidade da estratégia optada.

Materiais e métodos: Os autores analisaram retrospetivamente, todos os doentes consecutivamente admitidos numa única Instituição com o diagnóstico de ECM sintomática, entre 2011 e 2016. Após a colheita de dados clínicos, os doentes foram estratificados em grupos: aqueles orientados para melhor tratamento médico (BMT) foram adjudicados ao grupo I, os que foram submetidos a endarteriectomia carotídea (CEA) + BMT ao grupo II e os que foram submetidos a stenting carotídeo (CAS) + BMT ao grupo III. Posteriormente, foi realizada uma análise estatística dos resultados obtidos durante o período de seguimento.

Resultados: No grupo I foram incluídos 38 doentes, 25 do sexo masculino, com uma idade média de 74,5 anos. Durante o primeiro ano de seguimento foi registado um Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) e dois Acidentes Isquémicos Transitórios (AIT), perfazendo 3 eventos cerebrais (7,9%). Associadamente, 8 doentes (21%) faleceram, de causa não relacionável. No grupo II foram incluídos 29 doentes, 24 do sexo masculino, com uma idade média de 72 anos. Em termos de endpoint avaliado, foram registados 2 AVC’s peri-operatoriamente, sendo que um condicionou a morte do doente, o que perfez 2 eventos (6,5%). No grupo III, foram incluídos 19 doentes, 14 do sexo masculino, com uma idade média de 76,3 anos. Neste grupo foram registados peri-operatoriamente 2 AVC’s, sendo que um condicionou a morte do doente, o que perfez 2 eventos (10,5%).

Discussão/Conclusão: A análise estatística encontrou uma diferença estatisticamente significativa (p=0,038) favorecendo CEA + BMT em detrimento de CAS + BMT o que corrobora a evidência científica. Embora a existência de um maior número de eventos registados no Grupo I, não existiu diferença estatisticamente significativa quando comparado com o Grupo II (p=0,67). Apesar do reduzido número de doentes avaliados e do seguimento temporal, requerendo novos estudos, os autores consi- deram que, na presença de uma estenose carotídea moderada e sintomática, os doentes deverão ser orientados para CEA. Ainda assim, assume-se que possa existir um grupo residual de doente nos quais a CEA seja considerado um procedimento de elevado risco. Nesse grupo, a orientação adequada poderá ser para BMT com avaliações periódicas no sentido de ponderar CEA assim que possível.

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Publicado

2019-12-27

Como Citar

1.
Sousa PP, Lopes G, Teixeira G, Almeida R, Sá Pinto P. ESTENOSE CAROTÍDEA MODERADA (50–69%) SINTOMÁTICA — ANÁLISE RETROSPETIVA DE UM CENTRO. Angiol Cir Vasc [Internet]. 27 de Dezembro de 2019 [citado 24 de Novembro de 2024];15(3):188-94. Disponível em: https://acvjournal.com/index.php/acv/article/view/155

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